A Torre Bellesguard (também conhecida como Casa Bellesguard ou Casa Figueras) é uma obra do gênio modernista Antoni Gaudí. Encontra-se no distrito de Sarrià-Sant Gervasi, ao pé da serra de Collserola e com lindas vistas de Barcelona, fazendo jus ao nome “bellesguard”, que em catalão significa “belo mirante”.
Até o mês de setembro de 2013, a torre estava fechada à visitação. A partir de então, já é possível conhecer outra obra maravilhosa de Gaudí, situada na cidade de Barcelona. Uma obra que reúne chaves para a compreensão do trabalho de um arquiteto perfecionista, humanista, romântico e completo.
Um pouco de história
O local onde está localizada a Torre Bellesguard ocupa uma posição estratégica, motivo pelo qual foi escolhido pelos reis da Coroa de Aragão para a construção de um castelo. No ano de 1408, Martin I O Humano, rei de Aragão e Conde de Barcelona, mandou construir um castelo em Bellesguard, onde morou até sua morte em 1410. O castelo foi cenário de importantes eventos históricos. O rei Martin não nomeou sucessores e sua dinastia se extinguiu com seu falecimento.
Com a morte do rei, o castelo foi herdado pela sua jovem esposa, Margarita de Prade. Ao longo dos séculos, o castelo foi vendido inúmeras vezes até ficar abandonado e em ruínas, com seus muros cobertos por vegetação.
Em 1900 a terra foi comprada por Maria Sagués, viúva de Jaume Figueras, que encomendou, ao jovem e promissor arquiteto Antoni Gaudí, a construção de sua casa de verão em Bellesguard. Figueras era um amigo próximo de Gaudí e compartilhava com ele sentimentos catalanistas.
Gaudí ficou apaixonado pelo lugar e pela história nele contida. Ali acabou construindo uma obra que é uma homenagem à Catalunha que tanto amava.
A dona da Torre Bellesguard não tinha dinheiro para manter o prédio, que logo foi vendido. A Torre voltou a mudar de donos várias vezes. Durante a Guerra Civil espanhola abrigou um orfanato, período no qual parte da mobília desenhada por Gaudí foi queimada para servir de aquecimento para os orfãos. Em 1945, o doutor Luis Guilera Molas comprou a propriedade e instalou ai uma clínica ginecológica e obstétrica. Com a morte do médico, seu filho mais velho, também médico, herdou a casa e decidiu mudar a clínica para um novo endereço. A Torre Bellesguard voltou a ser uma residência familiar, como previsto no projeto original de Gaudí. Vários descendentes do médico ainda moram na Torre.
O trabalho de Gaudí em Bellesguard
Gaudí trabalhou na obra da Torre Bellesguard entre os anos de 1900 e 1909. No periodo também estava trabalhando no Col.legi de les Teresianes e na Cripta de la Colonia Güell. Nas três obras testou soluções arquitetônicas que mais tarde seriam usadas na Sagrada Família.
Gaudí não se restringiu à construção da torre. Também trabalhou na reconstrução das ruínas da muralha do castelo, que estão ao redor dos jardins. Construiu um aqueduto, que pode ser visto na parte externa, atravessando a rua bem na frente da entrada da Torre Bellesguard. Essa estrutura resultará familiar para quem já tiver visitado o Park Güell.
Gaudí levantou a Torre e também desenhou os jardins ao redor.
A história que há por traz de Bellesguard é fundamental para entender o trabalho de Gaudí, que se inspirou num castelo gótico medieval. Por isso, sua obra em Bellesguard é ecléctica: a Torre é gótica e modernista ao mesmo tempo, abrindo exceções no seu estilo com o uso de linhas retas, que não são uma característica em seus trabalhos.
Bellesguard tem quatro fachadas. O elemento de maior destaque está na característica cruz gaudiniana de quatro pontas. Bem embaixo da cruz há uma coroa, em referência a Coroa de Aragão, e abaixo dela encontram-se as quatro faixas amarelas e vermelhas da bandeira catalã.
Um recurso usado por Gaudí, para quebrar as linhas retas do castelo, foi cubrir as paredes com uma estrutura de tijolos e lajotas feitos com pedras achadas no local. Os diferentes tons das pedras fazem que a Torre mude de aparência dependendo da hora do dia e a incidência da luz.
Na fachada principal há uma roseta muito bonita, a “Estrela de Venus”. Essa roseta é maravilhosa, quando vista desde o interior da casa. Os especialistas acreditam que a roseta poderia simbolizar a estrela que guiou os Reis Magos ou Venus, a deusa do amor e da fertilidade, que teria abençoado com filhos a Martin O Humano. Poderia ser também uma amostra da paixão de Gaudí pela astronomia.
Os bancos na fachada principal e nos jardins, obra de Domènec Sugrañes, são puro simbolismo, com referências à história e a Catalunha.
O lindo trabalho em ferro forjado, uma característica das obras de Gaudí, também está presente nos exteriores da Torre.
Mas onde a linguagem do modernismo aparece mais evidente é no interior da Torre, um verdadeiro festival de formas, cores e luzes, que revela a magia de Gaudí e sua inspiração na natureza.
Gaudí pintou as paredes de branco, uma cor que potencia os efeitos da luz natural e que é perfeito para ver como se projetam as cores.
A Sala dels Maons, no alto da torre, ficou inacabada por falta de dinheiro.
Surpreendentemente essa é a parte da Torre que mais fascina os estudosos de Gaudí. Ao mostrar suas paredes sem qualquer revestimento, fica evidente o esqueleto da obra e as soluções arquitetônicas criadas por Gaudí, como a utilização de arcos e abóvedas para sustentar o peso da estrutura.
Quem subir até o alto da torre se sentirá o autêntico senhor do castelo, com seu labirinto de estreitos caminhos.
A surpresa final, coroando o passeio, fica por conta do fantástico dragão, que surge da combinação das linhas do telhado e de pequenas janelas, acompanhado pela lança de São Jorge, que se revela na forma da própria torre.
Visita
A Torre Bellesguard abriu para visitação em setembro de 2013. A página web da Torre contém muitas informações de interesse. Em ela podem ser consultadas todas as informações relacionadas à visita, incluindo preços e horários.
Há duas modalidades de visita:
- visita panorâmica. Unicamente se visita a parte exterior da Torre Bellesguard e os jardins, além de um espaço audiovisual. A visita é feita com a ajuda de um audioguia. Não é necessário realizar agendamento prévio.
- visita completa. Visita acompanhada por um guia, incluindo a parte externa da Torre Bellesguard e também o seu interior e terraço. A visita tem uma duração de uma hora. Há visitas em espanhol, inglês e catalão, com um horário por dia. Como os grupos são pequenos quem estiver interesse em realizar a visita completa deve comprar seus ingressos com antecedência (a compra pode ser feita aqui).
Ingressos
A Visit Barcelona Tickets é a loja oficial de turismo da cidade de Barcelona, parceira do passaporte BCN. Saiba mais sobre ela aqui. Na Visit Barcelona Tickets você compra seus ingressos para a Torre Bellesguard aqui.
Como chegar
A Torre Bellesguard encontra-se nos números 16-20 do carrer Bellesguard. Veja aqui a localização no mapa.
A forma mais interessante de chegar até lá envolve dois meios de transporte:
- a linha L7, marrom, do metrô, que parte da Plaça de Catalunya e vai até a Plaça Kennedy.
- chegando na estação do metrô, é preciso sair dela e entrar no começo da Avinguda Tibidabo. No lado direito está o ponto da linha de ônibus de número 196. É uma linha muito interessante, porque no caminho até Bellesguard sobe primeiro até a estação base do funicular que leva até o Parc d’Atraccions del Tibidabo. Desça na estação Bellesguard/Ronda de Dalt. A Torre fica a 2 minutos.
Na volta, e se não estiver chovendo, sugerimos voltar até a Ronda de Dalt e continuar a pé por ela, passar pela frente do Cosmocaixa (Museu de la Ciència), situado em um prédio modernista do arquiteto Josep Domènech i Estapà, e descer a Avinguda Tibidabo, prestado atenção às espetaculares mansões modernistas que estão nessa avenida, incluindo a Casa Roviralta. No final da avenida, é só pegar de novo o metrô. O passeio demora de quinze a vinte minutos.
Dica do Passaporte BCN
A Torre Bellesguard é uma obra de Gaudí com um estilo único, que não vai ser encontrado em outras obras do arquiteto. Localizada fora do circuito turístico, o passeio até a Torre é uma chance de conhecer um bairro muito charmoso de Barcelona e várias construções modernistas de destaque.
Eu que me gabava de conhecer quase todas as obras de gaudi, e o mês passado estive na cidade para ver a que me faltava, agora por culpa vossa vou ter de regressar!! Parabéns pela novo post, estou desejoso de conhecer
Prezado, sempre é bom ter motivos para regressar para um lugar. Felizes de ter te dado um para revisitar Barcelona! Você vai adorar a Torre Bellesguard. Abraços.
Também me aconteceu como com o Luffi acima. Não que eu achasse que já conhecia quase tudo de Gaudi, mas quando saiu na revista “Boa Viagem”, de “O Globo”, ontem (23/03/2017), sobre “Bellesguard”, logo pensei: será que o Tony e a Cecília já escreveram sobre isso e eu “comi mosca”? Pois bem, vim procurar e vi que foi isso que aconteceu, vocês já tinham tudo muito bem explicado e ilustrado, e há tempos! Abraços.
PS. na matéria da revista falam que a torre tem “altura de 33 metros, em referência à idade de Jesus Cristo ao morrer”. Procede?
Olá de novo, Décio. Pois é, há mais de três anos que estamos divulgando a existência da Torre Bellesguard, até a incluímos em um dos nossos roteiros (Collserola, Tibidabo e Torre Bellesguard). Ainda mais, a foto geral da Torre na web da Bellesguard é da gente!
Sim, a altura do prédio é de 33 metros, a idade de Cristo ao morrer. Abraço.
Muito legal isso da foto na página deles ser de vocês. Realmente captam imagens muito boas. Parabéns.
A foto aparece até no site da Prefeitura de Barcelona 🙂 Abraço.